segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Stella Mundi

 

            Uma pequena estrela entediada com as maravilhas do firmamento decidiu descer a Terra. Ela veio como uma bela criança do sexo feminino e denominaram-na Stella. Nos seus primeiros dias de vida já sabia exatamente que viera para observar, aprender, e retornar ao firmamento, mas não conseguia, obviamente em virtude da idade, comunicar-se. Balbuciava sons ininteligíveis e, desse modo, repetia para si mesma os seus objetivos.
            Stella aprendeu a andar e falar. Seus pais empenharam-se ao máximo para ensinar-lhe e proteger-lhe, contudo, eram muito pobres e, no processo de aprendizagem e sobrevivência, ela se esqueceu de repetir para si mesma o motivo pelo qual viera e para onde voltaria. Cada vez mais os objetivos se perdiam e ela os apagou da mente
            É preciso dizer que, aos doze anos de idade, ela passou a prostituir-se. Sua mãe já não podia trabalhar e seus irmãos há muito haviam se perdido pela vida irremediavelmente.
            Aos quatorze anos, ela adoeceu. Os médicos após os exames  finalmente, declararam tratar-se de AIDS. Stella passou a sentir-se tão triste que as forças lhe faltaram até para alimentar-se. Sua mãe faleceu dias depois de saber sobre a doença da filha, deixando-lhe uma casinha de Taipa na favela da Roda de Fogo e muitas recordações.
            Numa de suas idas ao médico, ela ouviu um doente comentar que o que o estava ajudando a superar os obstáculos e as agruras da doença era a leitura. Stella, nesse momento, deu-se conta de que não sabia ler. Essa descoberta serviu para aumentar-lhe o pesar e, em meio a tão turbulenta existência, decidiu que aprenderia a ler nem que fosse essa a última coisa que faria na vida.
            E assim foi. Meses se passaram e Stella dedicara-se de corpo e alma ao aprendizado, contudo, a pobreza, mais que a própria doença, minara-lhe as forças. Já acamada, pálida, dolorida e só, começou a definhar.
            Uma vizinha que, por piedade, passava na casa todas as noites para vê-la foi quem, a seu pedido, saiu de casa em casa a procura de qualquer livro ou revista para realizar o estranho desejo de uma moribunda. Um garoto entregou-lhe uma folha de papel com um conto que trouxera da escola. A mulher correu e entregou-o a Stella.
            Conta-se nas redondezas da favela que uma jovem prostituta de 15 anos de idade falecera. Seu último desejo fora o de ler qualquer frase, palavra ou texto que lhe pudessem conseguir. Deram-lhe um conto cuja personagem central era uma estrela que, entediada, com as maravilhas do firmamento, decidiu vir à Terra, sendo denominada Stella. Curioso foi que a jovem moribunda, após a leitura, sorrira com uma alegria indescritível, e de seu cadáver um perfume de flores e um brilho imenso desprenderam-se indo em direção ao infinito, e do seu corpo até hoje não existem vestígios.
Monica Gomes Teixeira Campello de Souza
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